Autópsiamente falando...

O que as pessoas esperam de mim? Que eu sorria e agradeça enquanto vejo minha vida aos poucos ser arrancada de minhas mãos? Não pretendo mais cobrir minhas injúrias com um sorriso acanhado, muito menos mentir tanto quanto o destino tem mentido pra mim. Viver pra ver os outros viverem perde a graça quando me vejo defronte a um ávido e faminto vampiro que me assombra a cada espelho que ouso pôr os olhos.

Sinto-me cada vez mais fino, com a alma anoréxica e o ego em crise de abstinência, atiro minha razão aos corvos que sobrevoam os restos mortais da minha auto-estima. Meus suspiros já não têm mais forças pra jogar pra longe as pestes em mim contidas que antigamente pairavam sobre jardins cobertos de insetos e crianças mal vestidas.

Cego de ambições, surdo de acalentos e mudo de sentimentos, me vejo sem sentidos, tropeçando entre moedas e alegorias que eu mesmo criei, vivendo metaforicamente e sonhando futilmente. Nada mais me satisfaz, já me esqueci como é sentir fome ou sede, meu alimento é a piedade dos que desprezam minha solidariedade.

Como agir perante a tais sinais? Não encontro saída, todo caminho é traiçoeiro e parece não levar a lugar algum, tudo que penso sentir não me deixa mais idéias a não ser pensar que morri mas a vida esqueceu de me avisar. Minha alma esqueceu-se de deixar meu corpo ou não quer encontrar a paz, meu corpo se recusa a parar e a natureza a me enterrar.

Pode ser que ainda tenha alguma missão a realizar ou algum pecado pra expiar, talvez haja algo ainda a aprender ou simplesmente é cedo para morrer. Será que alguém ainda precisa de mim? Ou eu ainda preciso de alguém? Só sei que me parece estranho um coração parar se não possui nada pra carregar.

Não gostaria de deixar este mundo sem nem ao menos uma vez ter dito Eu Te Amo, se pudesse ter um último desejo seria que todas as pessoas que amei de alguma forma tomassem conhecimento de meus sentimentos, que por medo ou covardia, nunca fui capaz de externar. E se com isso eu for capaz de arrancar, nem que seja o mais singelo dos sorrisos, eu já repousaria mais tranqüilo e menos arrependido.

Nada mais paira no ar a não ser o cheiro de formol que toma conta do lugar, entre vultos e sussurros tento imaginar o que se passa a minha volta, me sinto tonto e desorientado, muito menos consigo mensurar a quanto tempo estou aqui, mas sei que tudo começa a ficar claro e fazer sentido com a triste sensação do toque frio do bisturi.

Abração do Juca

2 pitacos:

Homero luz disse...

Eu já te disse para com essa coca-cola

Beta Schmitz disse...

ai credo... me lembrei do apelido que o leonardo me deu... MORTE!!!

=/

:D